sábado, 15 de março de 2008

POEMINHA SEM REALISMO PARA RUTH


Ilustração INISTA de Neli Maria Vieira

Pois é, RUTH:
naquela noite aziaga
o camarada Lincoln, com sua figura esquálida,
não cantou La Marseillaise,
nem mon petit Proust
degustou sua última madeleine;
também padre Alfredo não rezou a missa das seis,
tudo porque o sol se pôs ao meio-dia.

A terra não girou sobre seu eixo,
as aves aquáticas foram para o poleiro mais cedo,
os cavalos dispararam nas pradarias do espaço
e Balzac não pontuou sua última produção,
tudo porque o sol se pôs ao meio-dia.

O leiteiro de Minas não vendeu seu leite,
o sabiá de Gonçalves Dias não gorjeou na palmeira,
o gago Machado de Assis não teve ataque de epilepsia,
nem Edgar Allan Poe tomou seu pileque noturno;
o asqueroso corvo não repetiu seu nevermore, nevermore,
tudo porque o sol se pôs ao meio-dia.

O Cristo, no Corcovado,
com suas axilas fartas de desodorante barato,
gemeu e peidou: " fium!...”
Perfumando as tetas poluídas da " Garota de Ipanema ",
tudo porque o sol se pôs ao meio-dia.

Euclides não havia parido seu " livro vingador " ,
Verlaine não beijou naquela noite a boca fétida
[de Rimbaud,
Dostoiévski tremia de frio na cadeia;
as ondas oceânicas bêbadas de fúria e caos
lambiam as nádegas rosadas e pedregosas de Olinda,
tudo porque o sol se pôs ao meio-dia.

RUTH, a coisa foi tenebrosa:
o oceano nada pacífico
vomitou seu cardume de baleias na praia;
a lua triste, penumbrosa,
não derramou seu mênstruo de luz aquosa,
tudo porque o sol se pôs ao meio-dia.

Castro Alves não palitou seu dente de ouro,
Tobias Barreto não vociferou seu último desaforo em alemão;
Nietzsche não invocou naquela noite seu Zaratustra
e Hitler no íntimo do seu ventre de abutre
já comandava a sua Gestapo sanguinária.
tudo porque o sol se pôs ao meio-dia.

O conde de Tolstoi mergulhava em densas trevas,
Van Gogh planejava decepar a orelha esquerda
e se lavar em amarelo " excremencia ";
as nuvens celestes se tornaram negras, negras,
e Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião,
ainda não tinha o olho direito vazado,
tudo porque o sol se pôs ao meio-dia.

Naquela noite tenebrosa,
escura, macabra, relampejante,
Rimbaud, que ainda era imberbe e infante,
não havia pensado "Une Saison en Enfer";
o anguloso Dante não havia deflorado Beatriz,
Pitágoras, o filósofo grego,
não havia inventado a tabuada de multiplicar,
tudo porque o sol se pôs ao meio-dia.

Sir Gilberto Freyre nem pensava escrever " Casa-Grande & Senzala ";
Mussoline, com seu queixo de quadrúpede,
ainda não tinha feito sua pose de arromba,
nem o Titanic havia boiado na baía da Guanabara,
tudo porque o sol se pôs ao meio-dia.

O ritmo do JAZZ não balançava el mundo;
Beethoven, no Largo da Carioca, dançava carnaval,
fumava maconha e compunha " A Pastoral ".
Estou em dúvida: não sei se Camões já existia,
mas seu Cabral já havia gritado: "terra à vista!..”
Bocage não havia escrito seu primeiro poema pornô.
A Planície Amazônica já estava sendo amalgamada
e conspurcada para ser vendida aos mercados mundiais,
tudo porque o sol se pôs ao meio-dia.

Toca Filosófica, 9/2/l992

Um comentário:

Anônimo disse...

ALERTA AOS LEITORES, AMIGOS E AFETOS DE:
ARISTIDES THEODORO
No triste, bizarro, patético e infeliz atentado de relacionar o Escritor e Poeta Aristides Teodoro (já com 13 obras editadas) e um ícone expoente em integridade e inteligência de singular caráter.
Bem como, cidadão, morador, conhecido e reconhecido em Mauá, onde reside e, das seis cidades que compõem o grande ABCDR e Rio Grande da Serra e da grande São Paulo, bem como, de muitos, que respiram a expectativa de lerem, relerem suas obras já escritas e de suas futuras.
Alguém que, com seus atos de vingança gratuita, merece os refletores apagados da vergonhosa treva, do verme canalhada da hipocrisia promíscua, do acento no banco dos réus do machismo, da manipulação ordinária e do preconceito intrínseco e flagrante em suas sorrateiras ações que a inveja e o ciúme o alimenta.
Esse ser que vive em razão de perseguir aquele que constrói e que vegeta á sobra da covardia, tenta – inutilmente – convencer, negligenciando a inteligência e capacidade de analise de muitos, que Aristides Theodoro jaz no campo da inverdade, falência financeira, como se o dinheiro alimentasse o âmago desse poeta de cinqüenta anos de produção de beleza emocional e literária.
Claro que não vamos aqui declinar o nome da já declinada criatura. Mas temos, como servidores voluntários que o somos, daquilo que chamamos de dignidade e simpáticos para com aquilo que emana da verdade. Advogar a favor da causa chamada e clamada por muitos de... Aristides Theodoro.
Até por que como já diz a máxima das máximas em relação à sociologia antropológica: Cada um fala, faz e dá aquilo que seu coração esta cheio.
Aristides Theodoro... É em nome de sua obra e de tudo que a mesma nos alimenta de esperança, graça, prazer, ensinamento e aprendizado que lhe pedimos. Perdoe esse infeliz que não consegue viver sem aceitar teu merecido sucesso.
Cecél Garcia
21/07/12