sábado, 15 de março de 2008

O DOMADOR DA LÍNGUA

"O Brasil amansou o idioma"
Raul Bopp

O negro africano,
verdadeiro domador da língua,
chegando ao Brasil,
com raiva do seu senhor
explorador e tirano,
não se deu ao luxo
de aprender a língua do branco,
criando assim
o “seu próprio léxico”,
um léxico estranho, “cifrado”,
cheio de sons sibilantes,
que eliminava os ss e os rs,
para melhor ser entendido
pelos malungos da senzala.

E, dessa revolta inicial do negro,
surgiu esta brasileirice
morena, oleosa, faceira,
que faz gosto ser ouvida,
quando saída, com todo o seu pitoresco,
da boca desses brasis selváticos,
cheia de barbarismo e calor humano.

O certo é que o negro amansou a língua:
“surrou-a com sons de tambores” ,
azeitou as suas durezas,
poliu as suas arestas,
dominou a impetuosidade do potro xucro,
para melhor ser entendida
pelos malungos da senzala.

É por isso
que hoje em dia
temos este idioma belo,
bárbaro, sonoro,
cheio de sons de afoxés,
roncos de cuícas e pandeiros,
que o autor de “As Armas e os Barões Assinalados”
longe, bem longe, estava de imaginar.

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