sábado, 15 de março de 2008

O POETA PASSEIA POR SÃO PAULO NUM SÁBADO À TARDE

(Para Iracema M. Régis)

Tarde.
Sábado.
Chuva.
O poeta passeia por São Paulo,
sua eterna namorada.
Despreocupado, passos firmes,
o poeta anda. Uma livraria, outra.

Tantos rostos anônimos,
famintos. Eles
caminham apressados,
e buscam... Ninguém sabe o quê.
O poeta observa uns painéis:
Praça da Sé, l922.
E lembra Mário de Andrade, aquele
mesmo, o que mastigava amendoim
e que um dia escreveu:
“São Paulo! comoção de minha vida...”
É, à toa o poeta engole
as ruas da cidade
e tem a sensação de ver em cada homem
moreno, careca e grandalhão
o seu querido Mário de Andrade,
esse que pedia, ao morrer,
fossem suas partes espalhadas
pela cidade.

O poeta sente,
o poeta pensa,
mas não pára.
E segue
pelos Jardins futuristas da Praça da Sé,
pelas fontes de murmúrios represados
e, novamente, mais seres
anônimos avançam de metrô.
O poeta entra num bar.
E feliz de ver a cidade
tão viva, tão moderna,
toma um refrigerante
e vai voltando para casa,
deslumbrado de tanta beleza.

No meio do caminho, porém,
de Mário, ou do Tietê, brotam
umas perguntas de ninguém,
umas respostas que indagam.
Essa São Paulo de agora,
o que é que é?... Outra
Babilônia de suspensos
jardins?... Cadê aquela
província de outros tempos,
de estreito destino?...
Cadê Mário?... Cadê o
rio?... Nada. E o Tietê
pinga um suspiro
imenso, imensamente.

Como uma menina, esta cidade
cresce, cresce sempre,
ganha outras ruas, novas praças,
uns elevados, uns calçadões
de mármore. Tá bonita,
cheia de vaidade...


Com seu tipão canhestro de tabaréu,
o poeta passa.
Passa envergonhado,
com medo de atrapalhar a beleza
da cidade.
Passa numa nuvem muda
de carinho,
e tarde,
e sábado,
chove .

Toca Filosófica, 9/2/l978

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